segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Entrevista Invertida com
LUIZ GUSTAVO M. PEREIRA


Um fato inusitado aconteceu comigo esta semana. Após uma longa jornada de 12 horas de trabalho, resolvo passar na barraca de lanches de um velho amigo para repor as energias. Nada daqueles sanduiches de qualquer loja de rede fast food. Os lanches dele vinham sempre com um mínimo de 15cm de altura e recheado de acompanhamentos.
Estava lá eu, sentado à mesa, pronto para dar a primeira mordida quando uma mulher se senta na minha frente. De início me alarmei, mas a situação ficou ainda mais estranha quando um homem baixo se sentou ao meu lado esquerdo e um outro mais alto se acomodou na cadeira da direita. Por incrível que parecesse, eles me eram estranhamente familiares. A mulher, alta e com cabelos ruivos, vestia blusa e calça jeans. O homem baixo estava usando um casaco preto e barba por fazer. E o homem da direita parecia um ator de cinema, loiro, musculoso e de boa aparência. Após um breve silêncio a mulher começou a falar:
- Precisamos falar com você. Sabe quem somos?
- Não estou me lembrando... - arrisquei.
- Somos sua criação. Estamos aqui para descobrir como... estamos aqui!
Um turbilhão de possibilidades invadiu minha mente. Eles eram meus personagens? Como era possível? Fiquei estarrecido e não sabia o que pensar!
- Estamos aqui por sua causa. - Disse o loiro.
Admirado e sem saber como reagir, olhei para a mulher e perguntei bastante desconfiado:
- Qual seu nome?
- Você sabe quem eu sou. Tuna.
Simples assim. Olhei para o loiro e, rapidamente veio o nome Romam na minha cabeça. Me virei para o homem baixo que me fuzilava com o olhar e fiquei paralisado de medo. Aquele era o demônio chamado Rato.
Tuna, Deusa do Limbo, San Romam, representante do Reino do Céu e Rato do Inferno. Mal podia acreditar! Foi Tuna que iniciou aquela estranha conversa:
- Sei que está chocado em nos ver, mas infelizmente não me contentei em ficar no Limbo observando todo o universo e não vir aqui, conhecer pessoalmente, o meu Criador. Tenho perguntas a serem respondidas.
- Mas... você não sabe de tudo?... Digo, você é uma Deusa. Conhece passado, presente e futuro e pode mudá-lo se assim quiser... julga todas as almas...
- Sim! Eu sei disso tudo. Mas quero saber sobre você! Uma pequena entrevista! Posso começar?
Rato, impaciente, resmungou algo e resolveu esperar fora da lanchonete (acho que ali não era um ambiente para ele). O anjo simplesmente desapareceu alegando ter outras ocupações. Respirei fundo e, apesar da emoção, consegui me acalmar. Dei a primeira mordida no duplo hambúrguer e balancei a cabeça concordando. Até pensei em oferecer o lanche para ela, mas logo desisti da ideia. Era uma Deusa, afinal.

1 - Como e quando foi que você nos criou?
A história da Trindade se iniciou em 1994 quando estava terminando o curso de quadrinhos no Sesc de Santos pelo professor José Siqueira Leite Junior. Na época eu desenhava diversas páginas de HQ e montava vários fanzines. Curtia muito desenho e não parava de criar, pois assistia muitos filmes, séries e desenhos animados.
2 – Eu surgi em um fanzine? Não posso acreditar. Como era isso?
No começo eram 3 personagens bem diferentes. Você, Tuna, era uma experiência genética do Governo, irmã de Rato. O terceiro personagem era um alienígena chamado Poison. Foram 8 histórias produzidas até 2005. Os fanzines eram preto e branco, feitos em cópias de xérox, do modo tradicional como deve ser. Com as revistas fiz diversas exposições na Gibiteca de Santos.
3 – Eu era irmã de Rato??? Inconcebível! Como pode fazer isso? Como assim? Por que as mudanças?
Em 2010 eu decidi que a Trindade deveria tomar um rumo certo. Foi aí que tive a ideia de fechar uma história com começo, meio e fim. Para isso tive que dar uma repaginada em todos os personagens. Você se tornou a Rainha do Limbo que tem o trabalho de julgar as almas. Rato ficou com o mesmo visual, porém sua origem passou a ser no Reino do Inferno. San Romam já tinha aparecido em algumas histórias dos fanzines, mas tomou o lugar de Poison na Trindade. O dragão da história ganhou o visual do alienígena. E assim comecei a escrever a história definitiva da Trindade que se tornou um projeto completo.
4 – Como é esse projeto?
Como fui influenciado pelos filmes e séries, sempre tive o sonho de ter um filme com o meu nome e porque não o fazer com os meus personagens? Para isso precisava produzir a história em diversas mídias diferentes. Comecei o projeto em 2011 e até agora consegui finalizar um livro, confeccionei a Graphic Novel, fiz a sua estatueta e participo de eventos sempre que possível. E tem também o site oficial www.projetotrindade.com.br
5 – Uau... tem uma estatueta só minha!... Mas você fez tudo sozinho? Não teve ajuda?
Bom... todo o trabalho eu fiz sozinho, mas não quer dizer que não tive ajuda. Como eu já desenhava, a HQ foi totalmente produzida por mim: roteiro, desenho, arte final e cores. O livro saiu do roteiro da HQ. Trindade, Uma Jornada Além da Morte foi publicado pela Editora Madras com ajuda da minha mãe Maria Rosa. As estatuetas eu mesmo procurei fazer através de curso e tutoriais na internet.
6 – E sobre os eventos?
Depois que o livro foi lançado na Bienal do Livro SP em 2014, foram mais de 30 eventos com a participação do projeto. Já participei do MegaCon em Curitiba, JediCon em São Paulo e vários eventos de anime e geek pela Baixada Santista, incluindo a Santos Comic Expo. A cada evento o número de leitores ia aumentando. Na última semana participei do Festival Geek em Santos e tive a surpresa de que muita gente estava me acompanhando na escalada do meu sucesso. Tudo graças a eles!
7 – Eu já sei, mas tenho que perguntar: o que acha que o futuro lhe reserva? Qual seu Destino?
Atualmente estou realizando uma campanha no Catarse, no site www.catarse.me/projetotrindade, onde realizo um financiamento coletivo para a impressão em quantidade da Graphic Novel. A campanha vai até o dia 07/09/2017, meu último trabalho aqui no Brasil. Em 2018 estarei levando o projeto para a Europa para ampliar o raio de divulgação do livro. A partir daí, só você sabe o meu destino!
O meu lanche já estava no final. Já estava com uma avalanche de ideias para várias histórias depois daquele fantástico encontro. Tuna olhou nos meus olhos, tocou minha testa com a ponta de seu dedo e disse:
- Você vai conseguir tudo o que sonha. Pode não ser nesta vida ou na outra, mas com certeza um dia você terá o reconhecimento que merece!
Nesse momento, o meu amigo, dono da barraca de lanches aparece e diz:
- Tudo certo, colega? Está aí faz tempo e mal tocou na comida!
Foi aí que percebi que a cadeira da minha frente estava vazia. Nem sinal de Tuna. O sanduíche estava inteiro no meu prato. Olhei o relógio e vi que tinha passado 15 minutos depois que o lanche havia sido servido. O que tinha acontecido não podia ser real. Ou era?
- Acho que você anda trabalhando demais!.... – Disse o meu amigo dando as costas e rindo alto.

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