quinta-feira, 27 de julho de 2017

MÚLTIPLO 10 - AGOSTO DE 2017

Fanzine Múltiplo 10 - Muita HQ, artigos, entrevistas, novidades, apresentação de novas personagens e o espaço do quadrinho nacional sempre em destaque. Venha fazer parte dessa história, colabore, divulgue, comente, distribua os PDF's dos fanzines que compõem o projeto "MÚLTIPLO"!!!

BAIXE AQUI O SEU PDF E ADQUIRA O IMPRESSO NO CLUBE DE AUTORES!!!


MÚLTIPLO 10 - Agosto de 2017 by André Carim on Scribd

金 KIN: A garota fantasma da Liberdade! - Fábio Vieira - Studio Magenta


Gostaríamos de convidá-lo a conhecer nosso mais novo projeto que foi submetido ao financiamento coletivo pelo Catarse: 金 KIN: A garota fantasma da Liberdade!

No coração vibrante da cidade de São Paulo, existe uma lenda urbana: a garota fantasma da Liberdade, como as pessoas a chamam, entre sussurros. Ninguém sabe se ela existe de verdade, mas, ocasionalmente, no bairro japonês, ela é vista durante as madrugadas, sempre no escuro, correndo sobre a borda do viaduto ou empoleirada sobre um dos postes em formato de lanterna.

Essa é a premissa de 金 KIN, um mangá de 80 páginas com roteiro de G. Profeta (autor de Melissa em Ellipsia) e arte de Fabio Vieira, que narra a jornada da justiceira no centro da cidade de São Paulo, abordando questões como justiça, escolhas e consequências.

Encaminhamos em anexo um breve release e algumas imagens para que você entre em contato com esse projeto! A campanha começou dia 17 de Julho (www.catarse.me/kin) e estamos em busca de parceiros que possam nos ajudar com a divulgação do material.

Ficamos à disposição para maiores informações.
Muito obrigado!

Atenciosamente,
Fábio Vieira




Uma justiceira de camisola no centro de São Paulo:

A HQ KIN já está em pré-venda até 14 de setembro de 2017

Em KIN, G. Profeta e Fabio Vieira usam quadrinhos para tratar do que existe por trás de uma lenda urbana e abordar questões como justiça, escolhas e consequências

No coração vibrante da cidade de São Paulo, existe uma lenda urbana: a garota fantasma da Liberdade, como as pessoas a chamam, entre sussurros. Ninguém sabe se ela existe de verdade, mas, ocasionalmente, no bairro japonês, ela é vista durante as madrugadas, sempre no escuro, correndo sobre a borda do viaduto ou empoleirada sobre um dos postes em formato de lanterna.

Essa é a premissa de KIN, uma HQ (história em quadrinhos) que já está em pré-venda por meio da plataforma Catarse de financiamento coletivo (www.catarse.me), até 14 de setembro de 2017. Em KIN, a ideia é se debruçar sobre o componente humano que existe por trás de uma lenda urbana.

O roteiro é assinado pelo sorocabano G. Profeta, jornalista e Mestre em Divulgação Científica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas. KIN é a sua segunda história em quadrinhos – a primeira, Melissa em Ellipsia, também foi financiada coletivamente na plataforma Catarse em 2016. Já a arte leva a assinatura do ilustrador Fabio Vieira, em cujo portfólio constam exposições no Brasil, na Itália e nos Estados Unidos, além da edição dos quadrinhos O Peso da Água, Lucy in the Sky e A Rainha Pirata, todos viabilizados por financiamento coletivo.

O modelo de financiamento, segundo os autores, foi escolhido por possibilitar total controle sobre o desenvolvimento editorial da HQ, do roteiro à impressão. “A publicação por crowdfunding tem se provado uma alternativa à editoração tradicional, principalmente por aproximar o público de novos artistas independentes, geralmente mais dispostos à experimentação”, explicam.

“Esse é o caso de KIN, cuja narrativa é bastante experimental”, afirma o roteirista. “Um dos pontos com os quais brincamos bastante é o próprio cenário urbano, que funciona como um personagem. Toda a história se dá no centro de São Paulo: no beco da Liberdade, na Catedral da Sé, na Avenida Paulista... Por isso nós demos atenção particular ao

desenvolvimento desses cenários, do roteiro à arte, para que o leitor local pudesse se sentir dentro da história. Nós, como consumidores, estamos saturados de narrativas que se passam em Nova Iorque ou em Tóquio, por exemplo. Em KIN, nós queremos contar uma história paulistana, por assim dizer – ainda que venha naturalmente carregada de inspiração japonesa, seja pelo bairro da Liberdade ou pelo próprio estilo artístico, conduzido pelo Fabio com maestria.”

“Para KIN, eu busquei referências no realismo do mestre Takehiko Inoue, autor de Vagabond, e nos retratos da vida urbana de Scott McCloud, em O Escultor”, destaca Fabio, que acumula anos de estudo e prática na arte do mangá. Sua grande preocupação nesse projeto foi respeitar a tradição do shodo e do sumi-e, técnicas tradicionais de caligrafia e desenho com pincel. Por isso, grande parte da arte-final de KIN será conduzida com os velhos nanquim e pincel. Além dessas, outras influências visuais incluem os trabalhos do estúdio CLAMP (xxxHolic, Gate7) e de Tite Kubo (Bleach).

“O importante é que o traço revele a intensidade do sentimento”, diz Fabio. “KIN é uma história sobre justiça, escolhas e consequências, mas, acima de tudo, é uma história sobre sentimento. E isso conversa com qualquer ser humano. Sofrimento, ódio, tristeza... Aceitar e conviver com tudo isso é uma grande lição. Em nossas vidas, fazemos isso o tempo todo, com ou sem uma katana nas mãos.”

A HQ deverá estar disponível até o começo de 2018, se o projeto de financiamento coletivo for bem-sucedido. A primeira edição será uma publicação do Studio Magenta, uma iniciativa da Anima Academia de Arte, há 10 anos no mercado de Campinas, que tem como objetivo publicar e divulgar trabalhos artísticos de profissionais e amadores.

Como comprar Entre na página www.catarse.me/kin até o dia 14 de setembro. Faça um breve login (que pode se dar através do Facebook). Clique em “Apoiar este projeto” e escolha a opção que mais lhe agrada (cópia digital em pdf, cópia impressa ou cópia impressa com brindes extras). O pagamento pode ser feito com cartão de crédito ou boleto bancário, em até 3 vezes sem juros, dependendo da opção escolhida.

Página no Facebook: https://www.facebook.com/studiomagenta.art/

quarta-feira, 26 de julho de 2017

FRONTEIRAS DO ALÉM - CARLOS HENRY

FRONTEIRAS DO ALÉM - com Carlos Henry

Não é de hoje que venho dizendo que as HQs nacionais ganharam uma qualidade há muito não vista por essas paragens... a produção vem crescendo e trazendo jovens talentos e reforçando o talento de autores nacionais...
Com Carlos Henry não tem sido diferente, colaborador de diversos alternativos nacionais, grande divulgador das nossas artes, ele traz uma edição de terror como aqueles belos formatinhos antigos, com ótimas ilustrações, desenhos de primeira e o tema que arrebatou fãs por anos a fio: o TERROR! Carlos nos apresenta uma revista com 4 grandes HQs de terror, com destaque para o seu lobisomen, em duas HQs... capas em papel brilhante com belas ilustrações e miolo em tons de preto e branco com ótimos quadrinhos no traço já conhecido do nosso amigo Carlos Henry... Encontro Macabro e A Senha num terror mais marcante, complementam esta bela edição, definitivamente um exemplar que vale a pena ter na coleção pessoal... quem quiser adquirir a revista entrar em contato com o autor através do e-mail: chsstudio@gmail.com ou aqui no perfil dele no Facebook.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

UM MILÊNIO PARA AMANHECER - ANNE VENDITTI

"Ele está na polícia, mas não é policial...
Por que o filho de uma prostituta inglesa ingressa na polícia americana para trabalhar para o homem que o molestou?
Ao buscar exorcizar fantasmas do passado, Marvin DeMoore se vê preso numa rede de intrigas perigosas envolvendo um poderoso magnata da indústria tecnológica e sua filha fugitiva"


Livro de Anne Venditti disponível para compra no link: https://lojavirtual.giostrieditora.com.br/index.php?route=product/product&product_id=10724&search=Um+mil%C3%AAnio+para+amanhecer

Marvin DeMoore foi levado à Califórnia por seu padrinho aos 2 anos de idade e levado de volta à Inglaterra aos 5, sob circunstâncias desconhecidas. Filho de uma prostituta inglesa, é um homem de personalidade instável, ateu, amante de Shakespeare e pintura. Retorna à Califórnia aos 18 anos, atrás do chefe de polícia McMegory, cliente de sua mãe, que o molestou do 5 aos 15 anos, com quem começa a trabalhar depois de adulto, gerando suspeitas. Na virada do milênio, vê-se engolido por suspeitas de autoria de uma série de crimes que aparentemente não cometeu, os quais têm início após conhecer Jaak Jean, filha do magnata Eliot Lewis, dono da empresa de tecnologia Microtec. Tendo paralelamente ao cargo de investigador de polícia um trabalho sobre o qual ninguém sabe de muita coisa, precisa manter a polícia longe de seu encalço a fim de preservar o segredo sobre suas atividades sigilosas, enquanto tenta administrar sua obsessão pela argentina Clara Pellegrini, sua amiga de infância.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

FANZINE ILUSTRADO 3 - CARICATURAS, CHARGES, CARTUNS E TIRAS - AGOSTO DE 2017

Hora da diversão, galera, um FANZINE ILUSTRADO recheado de bom humor, caricaturas, charges, tiras e cartuns, mas também uma edição recheada de homenagens, obras de arte e o talento do artista nacional... vem conferir o material...

Os artistas desta edição:

Isaac Tiago
Moisés
Ediel Ribeiro
Bira Dantas
Nei Lima
Julio Shimamoto
Márcio Apoca
Carlos Henrique Guabiras
Marcel Bartholo
Josi OM
Omar Viñole
Dalton
Laudo Ferreira Jr.
Edgard Guimarães

Fanzine Ilustrado 3 - Caricaturas, Charges, Cartuns e Tiras by André Carim on Scribd



terça-feira, 18 de julho de 2017

QUADRINHOS INDEPENDENTES 145 - QI - EDGARD GUIMARÃES

Fanzine bimestral de informações e quadrinhos. Maio/Junho de 2017. Editor: Edgard Guimarães, Rua Capitão Gomes, 168, CEP 37530-000, Brasópolis, MG. Fone (35) 3641.1657. E-mail: Edgard.faria.guimaraes@gmail.com. 40 páginas, formato 15x21, capa com detalhe colorido manualmente, miolo PB. Assinatura anual: R$ 25,00. Edição gratuita em PDF no site da Editora Marca de Fantasia.

O fanzine QI, um dos mais longevos fanzines em atividade – ao lado do Tchê, de Denilson Reis – segue imprescindível aos fãs de quadrinhos.

Estruturado no estudo dos quadrinhos, especialmente os clássicos da era de ouro e prata, também publica HQs curtas, cartuns e ilustrações, mas o destaque vai mesmo para a parte jornalística.

A página 3 sempre nos traz a história e biografia de um personagem dos quadrinhos, esmiuçando detalhes sobre sua trajetória editorial. Nesta edição, “O Morcego”, criação de Wilson Fernandes para a editora Roval, em 1972. Herói nitidamente calcado nos clássicos Batman (Bob Kane) e Fantasma (Lee Falk), teve apenas uma edição publicada, tornando esta revista uma preciosidade, um verdadeiro tesouro dos quadrinhos nacionais.

A seguir curiosidades sobre Mickey, de Walt Disney (ou melhor, Floyd Gottfredson). Você sabe quando houve a mudança no desenho dos olhos do personagem, precisamente? Eu também não. Mais um mistério desvendado pelo arqueólogo Edgard. Também é mostrada uma censura nas histórias de Steve Canyon, de Milton Caniff.

Ainda com texto do editor, “Mistura de Estilos” falando sobre estas combinações inusitadas, já vistas em HQs Disney e até mesmo em uma aventura de Zé Carioca de Renato Canini, o maior de todos os Zés Cariocas em minha opinião e de muitos. Quando o desenho acadêmico encontra o cartunesco, cita também a participação de Rodolfo Zalla em uma situação de mistura de estilos de seu “Zorro”.

Lio Guerra Bocorny escreve sobre a revista de “Mazzaropi”. Hoje praticamente esquecido, Amacio Mazzaropi teve papel importantíssimo na cultura brasileira, apresentando o ‘caipira’ típico das regiões Sudeste e Centro-Oeste. Brasilidade perdida nos dias de hoje, recuperar a memória nacional é outro papel relevante prestado por QI e seus colaboradores.

“A Estranha”, por E. Figueiredo, é uma crônica sobre um dos males do século, que é a impessoalidade e a solidão. Apesar de não falar diretamente sobre HQ, merece reflexão por sua pertinência.

“Fórum”, a seção de cartas e mensagens, é mais do que isso. Simplesmente uma das seções mais importantes do zine, sempre com notícias quentinhas e informações interessantes sobre quadrinhos. Algumas: Luigi Rocco comenta o lançamento dos álbuns de “Pita” e “Piparoti”, personagens de Daniel Azulay (a turma com mais de 40 vai lembrar da Turma do Lambe-Lambe); Shimamoto fala sobre sua participação na revista “Clássicos do Faroeste”, com a adaptação do filme “Matar ou Morrer” pela editora Outubro; José Augusto Pires fala sobre sua edição definitiva de “Terry and the Pirates”; Alex Sampaio comenta o mercado de quadrinhos europeus atualmente, incluindo os álbuns mais vendidos; finalmente, entre tantos destaques, Luiz Antonio Sampaio, verdadeira enciclopédia sobre o assunto comics, dá mais um show de informações e curiosidades sobre o assunto.

A Coluna “Mantendo Contato” de Worney (WAZ), espaço de palpitologia segundo seu articulista, traz sempre assuntos relevantes e desta vez os eleitos são: a nova revista editada pelo ‘papa’ Franco de Rosa, “Operação Jovem Guarda”, de Rubens Cordeiro; a volta do título de “Dylan Dog”, pela editora gaúcha Lorentz; e o lançamento de “Contos do Absurdo”, álbum de HQ da revista digital homônima capitaneada por Daniel Verdi e equipe, pela editora Discovery.

“Edições Independentes”, traz a ficha completa de dezenas de publicações alternativas, com reprodução de capas. Guia seguro para conhecer o panorama dos fanzines produzidos no período, que aumentou neste bimestre. Tem coisas bem interessantes para os curtidores dos fanzines.

Na parte dos quadrinhos e cartuns, destaco as participações de Eduardo Marcondes Guimarães, a brincadeira divertida de Chagas Lima com as “Lendas Brasileiras”, e o cartum da contracapa, de Edgard, sempre com textos inteligentes.

O encarte é mais um presente aos assinantes fiéis da publicação. Uma belíssima HQ do autor português José Pires, “Asas da Coragem”, com capa colorida e miolo PB, que conta a história da primeira travessia aérea do Atlântico Sul. Inicialmente publicada nos números 18 a 20 de revista “Seleções BD” (2ª Série) entre abril e junho de 2000.

Sempre surpreendente, e mantendo o sucesso do ‘formato’, QI é sempre uma grande diversão, e é isso que importa. Que perdure por muitos e muitos anos.

RESENHA PUBLICA NO SITE DA ATOMIC EDITORA, FEITA POR MARCOS FREITAS em: http://atomiceditora.blogspot.com.br/2017/07/qi-145.html

domingo, 16 de julho de 2017

"THE FEW AND CURSED" - Série de FELIPE CAGNO & FABIANO NEVES

“SÉRIE EM QUADRINHOS QUE MISTURA VELHO OESTE COM SOBRENATURAL GANHA EXPANSÃO COM GRANDES NOMES DOS QUADRINHOS.”



“The Few and Cursed” investe em coletânea de curtas histórias para expandir seu universo pós-apocalíptico.

14 de Julho de 2017

The Few and Cursed, série criada por Felipe Cagno & Fabiano Neves, aposta mais uma vez no financiamento coletivo do Catarse para expandir seu universo e introduzir novos personagens. Série que começou no final de 2015 com o arco em seis partes Os Corvos de Mana’Olana apresenta uma coletânea de curtas histórias sob o título “As Crônicas de The Few and Cursed”.

https://www.catarse.me/as_cronicas

Com nomes de peso na produção da HQ como Luke Ross, José Luis, Pedro Mauro, Andrew Dalhouse, Adriano Di Benedetto, Sam Hart, Felipe Watanabe, Geraldo Borges e outros, o roteirista e editor do projeto Felipe Cagno planeja contar sete histórias de sete páginas cada que se passam no mundo sem água de The Few and Cursed:

“Quando terminei o roteiro da terceira edição da série principal, Os Corvos de Mana’Olana, percebi que tinha criado alguns personagens interessantes que eu mesmo queria conhecer melhor. Além disso, tem todo um mundo além da Ruiva que também sofreu com o sumiço de 90% da água no planeta da noite pro dia. Eu não queria esperar a conclusão dos Corvos para só então explorar mais desse mundo e como já tive duas experiências bem positivas com antologias antes, surgiu a ideia das Crônicas.” – compartilha Cagno

No final de 2015 The Few and Cursed introduziu a misteriosa personagem conhecida apenas como Ruiva na caça pelos Corvos de Mana’olana e já teve duas edições financiadas no Brasil e outras três financiadas internacionalmente no Kickstarter.

“O plano sempre foi produzir seis edições através do financiamento coletivo, tanto no Brasil quanto nos EUA, e com o apoio direto dos fãs temos algumas possibilidades editoriais que não teríamos de outra maneira como a Galeria de Artistas Convidados presente em cada revista. É gratificante demais para nós e para os leitores ver alguns nomes importantes das HQs como Jack Herbert, Eduardo Pansica, Ryan Ottley, Mirka Andolfo, Adriano Batista, e Yanick Paquette reinterpretando a Ruiva” – diz Neves

Felipe Cagno já teve mais de 15 campanhas de financiamento coletivo no Catarse e Kickstarter e quem apoiou qualquer trabalho dele sabe que pode esperar grandes surpresas como sobrecapa/pôster em gloss brilhante, imãs exclusivos e até cards colecionáveis. Tudo isso a custo zero para o apoiador através das Metas Estendidas:

“É só através do sucesso de um projeto no Catarse e indo além da meta inicial que podemos investir o excedente em produtos exclusivos e colecionáveis. Essa é a vantagem de se apostar numa pré-venda assim.” – revela Cagno



Antologia continua o cenário pós-apocalíptico onde mais de 90% da água no planeta simplesmente desapareceu da noite para o dia há mais de setenta anos no ano de 1840. A humanidade já se acostumou com a escassez, mas a falta de água estagnou qualquer progresso e a civilização continuou presa no século XIX.

Apelando para o sobrenatural e o impossível para sobreviver, homens e mulheres começam a desenterrar antigas maldições e os portões do inferno se abrem. As histórias das Crônicas irão explorar outras regiões do mundo como a Pérsia, Austrália e Egito além de introduzirem novos personagens que irão integrar a série principal Os Corvos de Mana’Olana.

As Crônicas de The Few and Cursed terá no mínimo 64 páginas no tamanho padrão americano e a campanha fica no ar até dia 07/08 apenas com pacotes de recompensas começando em R$30.

Link para a campanha: https://www.catarse.me/as_cronicas

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Entrevista com ANDRÉ DAHMER - Por RAFAEL SPACA - REVISTA BRAVO

“Arte não serve para dar status”
Na série com grandes quadrinistas brasileiros, Rafael Spaca entrevista André Dahmer. “Sou uma pessoa bem-humorada, mas não um humorista”



Por Rafael Spaca
Sua incursão às artes não é nada romântica. Você começou a desenhar ainda criança, uma das maneiras que seus pais encontraram para tentar melhorar seu problema de déficit de atenção e hiperatividade. Você dava tanto trabalho assim pra te apresentarem o desenho?
Eu era aquele menino que queimava e quebrava brinquedos, que não conseguia ficar sentado na cadeira em sala de aula. Tive muitas dificuldades de convivência na escola, até encontrar o desenho na oficina de Maria Teresa Vieira. Essa senhora, uma alagoana, foi muito importante na minha formação. Eu viria a retribuir tudo que ela me deu 20 anos mais tarde, lecionando Modelo Vivo na mesma instituição. Uma maneira de devolver os valores e ensinamentos que recebi: tratar do fazer artístico com amor e atenção; cuidar do dom para nunca se perder no caminho; respeitar a Arte como forma de existência menos conturbada. Devo muito a ela.

Você era péssimo aluno, repetiu de ano duas vezes. O que acontece que muitos, como você, lá na frente conseguem sucesso mesmo não tendo sucesso na escola?
Sucesso na vida, para mim, é falecer dormindo. Todo resto é bobagem. A carreira me deu possibilidade de sobreviver e ter uma família, é bem verdade. Porém, a Arte ultrapassa a questão do dinheiro. É uma maneira de sobreviver ao mundo interior, antes mesmo do mundo exterior. A Arte é um caminho para todos, diferentemente do que pensa o senso comum. O que falta é uma cultura de Arte em uma sociedade voltada para a técnica e “resultados”.

E por que esses péssimos alunos vão sempre pra área de humanas e não de exatas?
Não sei se isso é verdade. Sei que a maioria dos “alunos-problemas” não são entendidos pelas instituições de ensino tradicionais. Entendidos em suas demandas individuais, porque somos diferentes uns dos outros. Não é possível lecionar para 30, 40 crianças usando um padrão. É preciso respeitar e entender as nuances de personalidade de cada um. Ensinar é reconhecer as diferenças de cada um.



Pra quem foi desenganado, ter um quadrinho como conteúdo de referência para prova do Enem (em 2011), é uma das ironias da vida, não acha?
É, pode ser. Fico feliz que meu trabalho seja visto por adolescentes que nem eram nascidos quando comecei a trabalhar com quadrinhos. É um indício de que ainda estou fazendo algo relevante e atual. De qualquer forma, não guardo qualquer mágoa. Tudo que passei foi importante na minha formação como artista. Os erros são tão importantes quanto os acertos, na medida em que ambos ensinam e apontam novos caminhos. O erro ensina muito, não deveria ser desmerecido ou amaldiçoado.

Afinal das contas, depois que começou a desenhar, melhorou da hiperatividade e déficit de atenção?
Não tomo remédios, não havia drogas desse tipo quando eu era criança. Tenho alguma dificuldade de concentração, penso muitas coisas ao mesmo tempo. Porém, aprendi a “domesticar” o problema. Não me sinto menos capacitado para fazer nenhuma tarefa cotidiana, mesmo as que exigem muita concentração. Jogo xadrez desde os 15 anos, uma prova de que posso fazer tarefas que exigem muita concentração.

Na Belas Artes, na UFRJ, você não se adaptou a todas aquelas questões teóricas. Era muito rigoroso lá? O artista tem que ser livre e não enquadrado, não acha?
Acho que os fundamentos da técnica são importantes para qualquer artista, mas não são as únicas coisas que importam na formação. Grandes artistas foram recusados nas escolas de Belas Artes: Picasso e Van Gogh, apenas para citar dois exemplos. A questão é que a Belas Artes é engessada demais, muito voltada para o rigor técnico de representação. É provável que esta tenha “estragado” muitos meninos por trabalhar mais o rigor técnico do que a intuição, por exemplo.



Você louva não ter nenhuma referência, inspiração ou mestre. Isso te fez ser original?
Claro que tive mestres no começo, mas logo os abandonei. Não é bom cultivar ídolos em campo algum do conhecimento. Achar o próprio e original caminho é a única coisa que importa. Todo o resto é cópia ou reverência, o que não nos faz artistas. É preciso, em algum momento do caminho, fazer o que chamo de “abandono do mestre”.

Ziraldo te definiu como “cartunista machadiano”. Sabe o que ele quis dizer com isso?
Acho que ele se referia à forma de narrativa do meu trabalho. Sou muito agradecido a ele. Ziraldo me deu o primeiro emprego em mídia impressa, quando foi editor do Caderno B do extinto Jornal do Brasil. Eu tinha apenas 25 anos, nunca imaginei que trabalharia com quadrinhos por tanto tempo, fazendo dele minha profissão.

Não é preciso ler quadrinhos, conhecer pintura ou fotografia, para se tornar um desenhista?
É preciso, claro. Conhecimento nunca é demais. O problema é ficar preso às linguagens e caminhos já traçados anteriormente. O artista precisa inventar, não copiar. E invenção pressupõe liberdade e coragem para caminhar sozinho, sem guia. Depois de conhecer o que os outros fizeram antes, é preciso estar pronto para inventar o que não foi feito ainda.



Pra que serve a técnica?
A técnica é uma amiga do artista. Ela ajuda enquanto não faz do artista um mero repetidor. É preciso atenção com isso; a técnica pode manter um jovem artista preso a um sistema duro de pura representação e repetição, arrastando-o para longe do universo de invenção. Não existe fazer artístico seguro. Se você está no conforto da segurança, não está fazendo Arte.

Suas tirinhas, charges, cartuns sempre apresentam críticas com sarcasmo, escárnio, humor negro corrosivo e até autodepreciativo. Considera-se uma pessoa bem-humorada ou todo o seu trabalho reflete quem é você?
Me considero uma pessoa bem-humorada, mas não sou um humorista. Sou um cartunista, o que é muito diferente. Não sou uma pessoa engraçada, vamos dizer assim. Também não trabalho simplesmente para divertir pessoas: minha abordagem é outra, diferente da do palhaço de circo ou do humorista de auditório. Minha intenção nem sempre é a de provocar risos com o meu trabalho.

O alienado é sempre mais feliz do que o bem informado?
Talvez o alienado seja mais feliz, mas é uma forma de conforto pequena. A gente está no mundo para viver de verdade, por mais triste ou sem sentido que a verdade possa ser. A vida é muito curta para nos perdermos com religião ou crenças pouco prováveis. Acho que a existência é mesmo algo finito e sem sentido, infelizmente. Quanto antes nós aceitamos isso, mais preciosa se torna a vida.



Suas tirinhas já incomodaram muita gente, tanto é que chegou a ser ameaçado de agressão física por causa de algumas delas. Isso não te assusta?
Não, não me assusta pessoalmente. Me assusta a violência acima do debate de ideias. Isso sim me causa espanto. A violência é inerente à condição humana, mas também acho que somos capazes de coisas maiores. É só questão de tempo e vontade.

Hoje o receio de todo artista, além destas ameaças, é a cultura do processo judicial. Acredita que ele representa, de certa maneira, o que foi o censor de ontem?
Em alguns casos, é uma forma de cerceamento da liberdade de expressão, sim. Porém, se você tem medo de processos ao fazer cartuns, certamente está na área errada.

O politicamente correto vai matar a arte? Como encara esse patrulhamento de todas as categorias e segmentos da sociedade que se incomodam com quase tudo que se faz e é publicado?
Acredito que boa parte do mau humor com certas piadas tem algum fundamento. Não é possível que, em nome do humor, você ataque grupos historicamente oprimidos, por exemplo. Muito pelo contrário: acho que o humor pode e deve servir aos oprimidos e marginalizados. Para mim, o grande mérito do humor não é o riso, mas a denúncia da realidade.



Acha que daqui a pouco vai precisar desenhar tendo um advogado ou seu lado para saber se pode ou não fazer referência a um determinado assunto?
Não acho. Advogados ganham dinheiro com a discórdia. Meu trabalho não é feito para humilhar ninguém.

Você se diz uma pessoa solitária. Isso é bom ou ruim? O trabalho, sendo solitário, rende mais?
Não se pode fazer nada sem a solidão, dizia Pablo Picasso. É muito verdadeiro, se você entende que a natureza do fazer artístico é o mundo interior. A solidão segue produzindo romances, quadros e peças de teatro. Isso é bom, porque os solitários são donos de um mundo interior muito vasto, o que pode causar grande sofrimento. Para essa gente, Arte é remédio.

Suas tiras saem na internet e no jornal. Qual é a sensação de vê-las publicadas nesses dois meios de comunicação?
Acho que estamos em uma fase transitória, mas o jornal impresso continuará a existir por muito tempo. Talvez com outro formato, tiragem e função. Mas, como meio de informação, não acabará tão cedo. Fico feliz que meu trabalho possa ser lido em jornal. É um público de mais idade, que nunca imaginei ter como leitor.



O jornal, por ser canônico, dá outro tipo de chancela quando é publicado um trabalho seu?
Deve dar, mas não estou atrás de chancela de ninguém. Se você precisa de reconhecimento do meio para ser artista, há algo errado aí. A Arte existe para libertar, não para dar status.

E quando sai em livro, que importância tem isso pra você?
Isso é diferente, porque fica um registro mais cuidadoso do caminho que fiz. As tiras se perdem na velocidade da rede e do jornal. O livro é uma maneira de compilar o material, de organizar seu trabalho para um melhor entendimento futuro.

Você nunca se acomodou com o sucesso. Mata personagens, termina séries e se renova constantemente. Isso é insegurança ou inquietude?
Não é uma fórmula, é como meu trabalho se desloca naturalmente. Mais uma vez, é importante dizer que sucesso é um lugar que já matou muitas produções artísticas maravilhosas. Não me coloco neste grupo, mesmo sabendo que tenho um trabalho público. O que me importa é ficar velho sem sentir vergonha das coisas que fiz. Sucesso algum vale isso.



Além de não ter apego aos personagens, você também não tem apego à profissão. Você disse que desenhar não é o mais importante na sua vida e que largaria a profissão para fazer o que gosta de fazer de verdade. Desenhar pra você é como lavar louça, ou seja, um trabalho como outro qualquer?
É um trabalho como outro qualquer, que pode trazer tanto prazer quanto se tornar um bom cozinheiro, marceneiro ou médico. O mérito do trabalho não está na renda, mas no prazer que ele lhe proporciona. É triste ver gente que trabalha por trabalhar, que acorda puto para ir ao trabalho. Eu não conseguiria viver assim.

Suspeita do que você realmente gostaria de fazer e que te deixaria feliz?
Sou feliz com o que faço, mas poderia fazer outras coisas. Gosto muito da matemática e ciências exatas em geral, mas não tenho a paciência e a abstração necessárias para a tarefa; é melhor jogar xadrez com os amigos. Também seria facilmente jardineiro, porque adoro plantas e biologia. Tenho cuidado de plantas e estudado sobre o assunto por duas décadas.

O que tem de belo e de ruim na arte no sentido stricto sensu da palavra.
Arte tem algo de perverso, que é o mercado da arte, que muitas vezes serve para lavar dinheiro sujo de corrupção, armas ou diamantes de sangue, por exemplo. Um artista deve estar ciente e questionar a função do seu trabalho. Não é bom que sua produção sirva de alimento para apostadores e bandidos em geral. Porém, isso às vezes foge ao controle do artista, na medida que seu trabalho é valorizado e passa de mão em mão, como qualquer mercadoria.



Das séries que já criou, qual considera sua grande obra e qual ficou aquém do que imaginava?
Não tenho predileção por esta ou aquela série. Sou um ser humano, erro mais do que acerto. Fiz coisas que hoje eu não faria, mas sofrer de arrependimento, nesse ponto, é muita vaidade.

Você tem bom retorno de vendas com seus originais e produtos inspirados em sua arte como camisetas e canecas?
Nada que me enriqueça. A loja paga a escola das minhas duas meninas, e sobra um tanto para o vinho, e só. Os jornais também pagam muito pouco. Se eu quisesse apenas acumular dinheiro, estaria vendendo cerveja ou açúcar, não é?

Muitos dos seus amigos ou colegas de profissão estão aproveitando o bom momento das séries e adaptando-as para a TV, especialmente a paga. Não pensa em oferecer os Malvados para alguma grande empresa?
Já me procuraram outras vezes, mas tenho medo de adaptações. Já fui pago para escrever roteiros, não vejo nada demais nisso, se houver liberdade total para trabalhar. Muitos colegas estão deixando os quadrinhos porque o dinheiro está no audiovisual. É uma pena, acho.



A animação está no seu horizonte?
É muito trabalhoso, envolve muita gente. Se fosse o caso, teria que ser feita com gente muito boa da área. Mas, como disse, tenho meus receios.

Você está fazendo um documentário a respeito de pessoas uniformizadas. Como surgiu essa ideia e em que estágio está este processo?
Já foi feito. É um curta, uma experimentação de linguagem. Tenho vontade de fazer trabalhos em cinema, principalmente documentários. Mas é trabalhoso e custoso, além de envolver muita burocracia. Com quadrinhos, nada disso acontece.

Como você se define?
Um cara que aprende fazendo e errando. Aquilo que costumam chamar de autodidata.



Quadrinho se faz por amor ou por dinheiro?
Pode ser feito por dinheiro, mas sempre com amor.

Tem muita gente boa fazendo quadrinho por aí?
Muita gente. Todo dia descubro alguém novo. Há meninas e meninos fazendo bons quadrinhos, o que me dá grande alegria.

O que é mais difícil, desenhar ou encontrar a linguagem para o desenho?
O desenho é natural, está em todos nós desde sempre. A prova disso é que todas as crianças do mundo gostam de desenhar (caso análogo ao da música). É uma pena que o sistema educacional nos retire este instrumento de saber e conforto tão cedo. Desenhar é uma maneira de organizar e limpar o inconsciente, como fazem os sonhos. Recomendo para todos o caderno e o violão. Fica mais fácil suportar a vida.

ENTREVISTA COM ANDRÉ DAHMER REALIZADA POR RAFAEL SPACA E PUBLICA NO SITE DA REVISTA BRAVO:
https://medium.com/revista-bravo/arte-n%C3%A3o-serve-para-dar-status-92b5002a9dc3

terça-feira, 11 de julho de 2017

ENTREVISTA COM EMIR RIBEIRO - MÚLTIPLO 9


- Emir Ribeiro, Mestre dos Quadrinhos Nacionais -
Como começou no mundo dos quadrinhos?
EMIR RIBEIRO: Sempre gostei de desenhar, e quando comecei a colecionar na segunda metade dos anos 1960, empolguei-me e tentei produzir meu próprio material.

Qual a personagem mais importante criada por você? Qual a importância dessa personagem na sua carreira de quadrinhista?
EMIR RIBEIRO: Sem dúvida, a Velta, que sempre foi a preferida do público.
Trabalhou com seu pai nessa área de quadrinhos? Qual a importância disso para sua carreira?
EMIR RIBEIRO: Meu pai costumava me acompanhar aos jornais, quando tentava vender minha produção, além de dar uns pitacos quando comecei a produzir profissionalmente. Também foi meu parceiro na criação do índio Itabira, que sem dúvida é outro importante personagem da minha galeria, especialmente porque – a partir dele – desenvolveu-se outro projeto bem-sucedido: a História da Paraíba em Quadrinhos.
Índio Itabira, a História da Paraíba, em Quadrinhos, de Emir Ribeiro
Algum outro personagem marcou esse tempo no mundo dos quadrinhos? Se tiver mais de um, cite e nos fale sobre eles.
EMIR RIBEIRO: O Desconhecido Homem de Preto foi marcante por conta dos dois filmes que protagonizou, e assim, ficou bem conhecido nacionalmente.
Você pegou uma época difícil para o país no que diz respeito a política e ditadura. Isso influenciou você de alguma forma e no seu trabalho?
EMIR RIBEIRO: As conjunturas da época se refletiram nos personagens. A Velta, por exemplo, era um contraponto à censura ferrenha, com suas roupas sumárias e sensualidade à flor da pele. Boa parte do material dela era vistoriado, primeiramente por uma comissão censora de professores, na época em que foi publicada no jornal de colégio. Posteriormente, nas revistas independentes, era preciso entregar exemplares na Polícia Federal, mas nunca houve corte de páginas, desenhos ou temas. Acho que era mais gravoso falar mal do governo ou do regime do que colocar desenhos de mulher de tanguinha ou seminua. Apenas numa publicação de um jornal, a primeira dama do Estado reclamou de uma cena onde a loura-detetive, encurralada por um bandido, abaixa a calcinha para distrair o meliante e atacá-lo com mais facilidade.
Como foi publicar quadrinhos no Correio da Paraíba?
EMIR RIBEIRO: Não há muito a registrar sobre minha passagem nesse jornal, pois lá só publiquei Velta e Itabira durante o ano de 1980, no suplemento “Guri”, coordenado por Deodato Borges, pai do hoje “Mike” Deodato (que também publicou no mesmo tabloide, uma HQ do Ninja).
Falando em Paraíba, existem alguns nomes de destaque vindos desse Estado, acredita que é coincidência ou algum fator influenciou para que isso acontecesse?
EMIR RIBEIRO: O fato do jornal “A União” ter dado muito espaço para os quadrinhos na segunda metade da década de 1970 – tanto nas tiras diárias como no seu suplemento dominical “O Pirralho” - sem dúvida, influenciou muitos garotos a produzir. Tanto é que a maior parte dos nomes de destaque nos quadrinhos, surgiu na década de 1970.
Conte um pouco sobre seu trabalho na linha erótica.
EMIR RIBEIRO: Comecei publicando na Grafipar, de Curitiba, mas infelizmente, não foi por muito tempo, visto que a editora estava em declínio no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Quando os militares começaram a afrouxar as rédeas, na segunda metade dos anos 1980, surgiu a Press-Maciota em São Paulo, publicando várias linhas do gênero, e fui requisitado a participar de diversos títulos, com uma produção intensa, vez que o material estava vendendo bem. Geralmente, pediam mais histórias com temas cujas vendas estavam em ascensão e me solicitavam determinados personagens ou cenas. Lembro que, nessa época, ganhei um bom dinheiro com quadrinhos, e a fase se estendeu até o começo dos anos 1990.

De onde veio a inspiração para criar Velta?
EMIR RIBEIRO: Primeiramente, quis conceber uma criação que destoasse das demais vistas no mercado de quadrinhos da época, ou seja, que fosse diferente do habitual. A tônica da época era de os protagonistas serem homens fortes e musculosos, enquanto as mulheres se sujeitavam à condição de namoradas destes, quase sempre se apresentando como coitadinhas atrapalhadas e cheias de pudores, que precisavam o tempo todo serem salvas de encrencas. Por isso, minha criação seguiria o caminho oposto, tendo personalidade forte e decidida. O toque final veio pela oposição à censura, no vestuário sumário e na sensualidade. Para compor a forma física da Velta, inspirei-me, em parte, na figura da personagem de quadrinhos Pravda, a qual andava quase nua, montada numa motocicleta. O corpo bem brasileiro e os longos cabelos vieram de uma garota real que encontrei na praia de Boa Viagem, na capital do vizinho estado de Pernambuco.
Quais as características da personagem (Velta) e qual o público para o qual ela foi criada?
EMIR RIBEIRO: As histórias de Velta seguiam a linha dos super-heróis estadunidenses, porém, minha ideia sempre foi impor um estilo mais adulto. Só que, na época, qualquer tema mais forte ou polêmico, precisava ser tratado de forma camuflada, não tão evidente, para evitar ser podado pela censura. O fato é que a personagem sempre foi mais direcionada para um público maduro.
Trabalhou para editoras internacionais? Quais trabalhos e qual o destaque para esses trabalhos?
EMIR RIBEIRO: Fiz trabalhos para a Marvel, DC, Image e outras menores dos EUA, entre 1993 e 2006. Na maior parte das vezes, trabalhei como desenhista e/ou arte-finalista fantasma. Como meu estilo era o mais parecido com o de Deodato, e visto que ele teve visibilidade rápida pela participação no título da Mulher-Maravilha, fui requisitado para suprir a consequente demanda de material pedido pelas editoras. Houve casos onde fazia todo um desenho, e no final, minha assinatura era trocada pela de Deodato, para que o material fosse mais atraentemente vendável aos leitores. Por isso, eu costumava fazer um truque: camuflava meu nome ou nomes, logotipos e figuras dos meus personagens, só para marcar minha presença no trabalho. Quem rever revistas daquela época vai encontrar trabalhos assinados por “Deodato Studio” onde há cenários onde aparece um caminhão com o nome “Ribeiro” na carroceria, ou um jornal com a manchete “Emir was here”, ou uma Elektra usando um hobby com o logotipo da Velta, e etc.
Apesar disso e dos editores geralmente serem bastante chatos, não tenho o que reclamar quanto ao pagamento. Foi outra das épocas nas quais ganhei mais dinheiro com quadrinhos.

É verdade que não lhe deram os créditos dos desenhos que fez para fora?
EMIR RIBEIRO: Na maior parte das vezes, sim. Isso porque Deodato “estourou” logo por ter trabalhado no título de uma personagem bastante conhecida, gerando um interesse muito grande e as editoras correram para ter material do novo astro nos seus títulos. O estúdio que nos agenciava precisava mesmo aproveitar a excelente oportunidade de ganhar um bom dinheiro, e por isso, abastecia as editoras com desenhos “assinados” por “Deodato”.
No entanto, algumas poucas edições estamparam meu nome nos créditos.
O que é “A Volta do Homem de Preto” e qual a importância dele para você?
EMIR RIBEIRO: Foi a sequência ao primeiro filme, que mesmo sendo amador e filmado no sistema VHS, foi bem divulgado nacionalmente. A continuação era um caminho natural.

Prefere preto e branco ou colorido em seus trabalhos?
EMIR RIBEIRO: Sempre achei que o preto e branco dá mais oportunidade de ver melhor os desenhos. Porém, o público se habituou às cores, e só não faço uso delas em edições impressas por encarecer bastante o preço unitário de cada exemplar.
Qual a importância das HQs da Velta coloridas?
EMIR RIBEIRO: Quem lê HQs em preto e branco sempre fica com algumas perguntas, do tipo: qual a cor da roupa dela? Qual a cor dos cabelos desse personagem? Enfim, algumas curiosidades de leitor que não ficam satisfeitas na impressão em preto e branco. Por isso, uma vez ou outra, fiz questão de lançar edições coloridas.
Você foi finalista do prêmio Jabuti 2014 pelo livro “Fantasmagorias de R. F. Lucchetti”, o que foi esse trabalho e qual a importância de ter chegado à final com ele?
EMIR RIBEIRO: Primeiramente, foi uma ótima oportunidade de trabalhar em parceria com um ícone cultural brasileiro, de quem sempre fui fã. Haver sido indicado na categoria de ilustração no prêmio Jabuti foi a prova de que a parceria deu certo. Melhor que isso, só se houvesse ganhado o Jabuti. Mas, quem sabe, no futuro...?

Como você viu e como você vê hoje o mundo alternativo de fanzines e quadrinhos alternativos?
EMIR RIBEIRO: Os fanzines foram muito importantes na divulgação e mesmo na evolução de vários artistas, principalmente na década de 1980. Atualmente, com a internet, vejo que o movimento está mais esvaziado, mas penso que se a frequência de lançamentos voltar, os fanzines podem ficar em alta novamente.
Editou algum fanzine? Como define o seu trabalho nesse universo?
EMIR RIBEIRO: A maioria das minhas publicações sempre teve um tom mais profissional, pois saíam em jornais e revistas impressos em offset. Que me lembre, o único fanzine que editei foi o Minizine, no fim dos anos 1970, que depois voltou na segunda metade dos anos 1980, com HQs inéditas e impresso em offset. Participei ainda, com um grupo de amigos, do “Gigante Verde”, que durou 14 números, salvo engano.

Trabalhou profissionalmente com quadrinhos? Valeu a pena? Quais trabalhos?
EMIR RIBEIRO: Quase sempre fui remunerado pelo meu trabalho com quadrinhos, desde o começo nos jornais, em 1975, até a fase de exportação, que foi até 2006. Sem dúvida, valeu a pena. Eu esperava que valesse ainda mais, mas, dentro da situação brasileira, creio ter conseguido bons resultados.
Quem é a “Velta”? Quais as características da personagem e qual a área de atuação dela?
EMIR RIBEIRO: Velta é uma detetive particular que ganha dinheiro com os poderes que adquiriu. Porém, nem sempre ela visa lucro, e quando é preciso, ajuda as pessoas sem ser paga para tal. Ultimamente, nas histórias mais recentes, ela resolve explorar sua figura em outras áreas, como na do mundo da moda, e numa edição ainda inédita, Velta tenta a sorte como atriz. Ou seja, ela se encaminha para ser uma personagem multimídia, bem diferente do seu começo com mera heroína caça-bandidos.

Como vê a personagem Velta ter se tornado musa do Universo Independente de Quadrinhos?
EMIR RIBEIRO: Primeiramente, acho ótimo que tenha sido um processo que ocorreu naturalmente, e também fico contente que minha criação tenha conseguido causar essa reação no público e no meio quadrinhístico nacional.
Quantas edições com a Velta você lançou? A HQ da personagem pode ser considerada erótica?
EMIR RIBEIRO: Nunca me preocupei em contar, mesmo porque a maior parte delas não tem numeração sequencial. Creio que uma personagem erótica é aquela que explora o sexo como tema principal. Não é o caso de Velta. Creio que ela se encaixa mais na linha sensual. Sexo é apenas UM dos componentes das histórias, mas nem é tratado de forma explícita. Acho que há muitos outros ingredientes nas HQs que produzo, porém, como sexo ainda se constitui um tabu, é sempre mais visualizado, especialmente pelos “críticos”.
Quem é Raio Negro e qual sua participação nas HQs da Velta?
EMIR RIBEIRO: Raio Negro é um personagem clássico dos quadrinhos brasileiros, criado pelo saudoso Gedeone Malagola na década de 1960, foi uma das criações mais bem-sucedidas do seu tempo, e ainda hoje é lembrado pelos fãs e leitores. Em 1989, quando Gedeone me visitou aqui na Paraíba, combinamos fazer uma HQ reunindo o Raio Negro e a Velta, mas, como quase todo projeto de quadrinhos no Brasil demora a ir para o papel, somente em 2008 se tornou realidade. Infelizmente, foi naquele mesmo ano que Gedeone faleceu. O título “Velta & Raio Negro” ainda durou até o Nº 4, mas não prossegui com ele, visto que haveria mais dificuldade em obter permissão da família para prosseguir com o personagem. Antes, era mais fácil porque eu tinha contato direto com Gedeone, seja por carta ou telefone. Mas, seria ótimo que alguém continuasse com as aventuras do herói, para que o mesmo não terminasse esquecido.

Quem foi a musa inspiradora para criar a Velta?
EMIR RIBEIRO: Conforme lhe disse anteriormente, uma garota de longos cabelos que vi numa praia de Recife/PE e a personagem francesa/belga Pravda.
Tem alguma relação da Velta com o universo Marvel? Ela é uma mutante, de onde veio a inspiração para esses poderes e para o tamanho da garota?
EMIR RIBEIRO: Creio que a única relação com a Marvel tenha sido a linha inicial das suas histórias, que seguiam mais ou menos o mesmo trajeto. Porém, em pouco tempo, comecei a me afastar dessa linha, e hoje não há mais nada que se possa associar a Velta com a Marvel estadunidense.
Com relação aos poderes, não se trata de mutação, mas sim de aquisição. Aliás, acho o expediente da mutação genética um meio simplista de dar capacidades especiais a um personagem. Sempre preferi o meio artificial, que dá mais possibilidades de novas tramas às HQs. Eu teria dado qualquer tipo de poder a ela, visto que era característica do gênero a personagem principal ser dotada de algum dom especial. Preferi somente a emissão de rajadas e a cura acelerada, pois não a tornaria nenhuma semideusa superpoderosa e invencível - o que teria deixado as HQs excessivamente distantes da humanidade real. A altura e os exageradamente longos cabelos, são componentes usados para dar características bem próprias à personagem. Da mesma forma são as sobrancelhas da personagem Nova. Quando alguém se refere a alguma delas, é natural que diga: “É aquela loura grandona de cabelos enormes? ” (Velta). Ou “É aquela ruiva de sobrancelhas estranhas”? (Nova). Ou seja, são elementos fora do normal que identificam e individualizam cada personagem.
Sei que você é um dos mais fervorosos defensores das HQs brasileiras, como você vê isso e qual o principal motivo? Considera nossos quadrinhos bons ao ponto de competirem com os internacionais? O que precisaria acontecer para que as HQs brasileiras decolassem?
EMIR RIBEIRO: Não se trata de ser defensor fervoroso. O assunto é bem mais complexo. Não se trata de causas ideológicas ou patrióticas. Estamos tratando meramente de negócios, e em negócios há a concorrência. Os quadrinhos estrangeiros só dominam o público brasileiro porque fizeram bom uso da propaganda, e tiveram bastante ajuda de inocentes úteis nesse processo. Alie a isso aquele eterno complexo de vira-lata do nosso povo, que quase sempre pretere o material produzido no Brasil ao estrangeiro. Dessa forma, o estrangeiro não só domina, como impede que haja um mercado interno de quadrinhos. Dessa forma, artistas e personagens nacionais não vingam, não derivam outros produtos com imagens de criações locais (estampadas em camisetas, lancheiras, cadernos e outros produtos). Ou seja, a falta desse mercado interno de quadrinhos não permite que mais artistas se sobressaiam e não ganhem dinheiro com sua arte. Daí essas pessoas, com grande potencial artístico, vão ser embaladores de supermercado, guardas de banco ou burocratas. Ora, não é um enorme desperdício de talento? É justo que pessoas com essa qualificação não consigam ganhar dinheiro com sua arte (e consequentemente possam evoluir ainda mais seu trabalho)? É justo que bons personagens fiquem ofuscados pelo poderio da propaganda estrangeira?
No final das contas, observe que tudo isso se reflete na condição econômica do país. Portanto, é preciso observar todo o processo com uma visão macroscópica e menos simplista.
Enquanto houver um quadrinhista nacional dando vivas e fazendo propaganda gratuita de personagens e artistas estrangeiros, este estará prejudicando a si próprio e a outros seus colegas brasileiros que trabalham no mesmo ramo. É uma atitude profissionalmente suicida.
Como é chegar a 40 anos publicando Quadrinhos independentes? Seu fôlego ainda é o mesmo?
EMIR RIBEIRO: Na verdade, em 2018, já serão 45 anos. Para mim, produzir quadrinhos é parte da minha fisiologia. Não dá para ficar muito tempo parado. Minha cabeça está sempre trabalhando, até de forma automática. Creio que meus neurônios (ou seja, lá quais células mais) tem necessidade de estar sempre criando alguma coisa. Colocando a coisa em termos de super-heróis de quadrinhos: é como um poder que precisa estar sendo usado constantemente (Risos). Acho que meu fôlego continua o mesmo. A diferença é que estou mais experiente, mais crítico e mais objetivo.

Como você vê a mudança nas produções e publicações com a era digital?
EMIR RIBEIRO: Não me adaptei bem, pois ainda faço as páginas em papel, com material físico (caneta, lápis, pincel, etc.). A parte digital está nos balões, letras e cores. O restante é todo produzido à moda antiga.
Há artistas que usam canetas digitais para desenhar, mas não é o meu caso. Ainda prefiro o velho papel.
Utiliza alguma referência no seu trabalho? Hoje, de onde vem sua inspiração?
EMIR RIBEIRO: Não utilizo referências e nem inspiração em outros trabalhos. Há algumas décadas passadas, ainda cheguei a usar, mas quando defini estilo próprio, esqueci por completo das inspirações iniciais. Não havia mais sentido prático em continuar a usar.

Qual artista te levou a fazer quadrinhos? Quem admira nesse universo de HQs?
EMIR RIBEIRO: Sempre gostei do saudoso Jack Kirby, justamente porque ele fazia diferente em meio ao que era publicado na época. No Brasil, Eugênio Colonnese e Rodolfo Zalla eram artistas frequentes das publicações. Eu admirava todos estes, e continuo gostando até hoje.

Se pudesse escolher hoje, faria tudo de novo?
EMIR RIBEIRO: Faria. Não me vejo em outra atividade senão como produtor de quadrinhos.

Quando se fala em FANZINE, qual a primeira coisa que lhe vem à mente?
EMIR RIBEIRO: É uma sensação boa, pois foi o veículo no qual me tornei mais conhecido como artista.
Qual a sua formação além dos quadrinhos? Como concilia quadrinhos, família e trabalho?
EMIR RIBEIRO: Eu já fiz de tudo um pouco. Sou formado em contabilidade (dá para acreditar?). Quase me formei em arquitetura. Mas, já trabalhei em banco, já fui professor de matemática e desenho, e trabalhei na carreira judiciária. Porém, o trabalho que me realizava plenamente era a produção quadrinhos – com personagens MEUS - para jornais e revistas.
A maior parte desses empregos, portanto, visava a necessidade de sobreviver e pagar as contas. Os quadrinhos – quando não eram a principal fonte de ganho - ficavam para as poucas horas livres, pois, em termos bem objetivos, era preciso primeiramente se auto sustentar e à família.

Tem alguma mágoa com relação ao mundo dos quadrinhos? E a maior alegria?
EMIR RIBEIRO: A parte negativa é saber que o Brasil dá tão pouco valor aos quadrinhos produzidos pelos artistas locais. Mas, me alegro por ter conseguido um relativo destaque nesse meio difícil.

O que leva você a contribuir com os fanzines nacionais?
EMIR RIBEIRO: Contribuir para – mesmo “remando contra a maré” – que um dia haja um mercado nacional de quadrinhos, e os artistas consigam trabalhar naquilo que gostam e ganhar bem, deixando todos felizes.
Além da Velta, há algum outro personagem seu que você tenha um carinho especial?
EMIR RIBEIRO: A Velta foi a que mais obteve visibilidade, mas gosto de todas as outras criações. Se um dia, alguma delas conseguir o mesmo nível de divulgação obtida pela Velta, pode crer que trabalharei bastante com ela, a fim de satisfazer o público.

Qual a sua preferência de HQs? Tem algum personagem de outro autor que você curta?
EMIR RIBEIRO: Atualmente, não tenho um gênero preferido. Qualquer um que me entretenha com boas histórias e personagens bem estruturados, será apreciado. Quanto aos personagens fixos, eu gostava muito do Judoka da EBAL, e lamentei o dia em que foi cancelado (pena que nunca cheguei a assistir o único filme que fizeram dele, nos anos 1970) . Gosto muito da Mirza, do Colonnese, e é uma pena que a produção parou com o falecimento do mestre. Da mesma forma é com a “Naiara, filha de Drácula”, desenhada pelo saudoso Nico Rosso. E tem ainda o Raio Negro do Gedeone, que se sobressai pela criatividade que sempre lhe foi característica.

Na sua opinião, o que determina o sucesso de uma personagem?
EMIR RIBEIRO: Primeiramente, a propaganda. O público sempre foi e continuará sendo suscetível aos apelos mercadológicos.
Fale um pouco sobre o seu estilo de desenho. Que materiais utiliza? Como definiria seu traço?
EMIR RIBEIRO: Dentro das minhas limitações pessoais, sempre tentei fazer um traço realista, não cômico e nem caricatural. Posso trabalhar em qualquer gênero que se encaixe nesse estilo: terror, aventura, erótico, drama, etc. Costumo usar o mesmo material que usava no começo: papel, canetas de nanquim ou de ponta porosa, pincéis, lápis, grafite e borracha, além de réguas e curvas francesas. Não gosto de trabalhar em superfície inclinada. Tenho algumas manias artísticas: prefiro desenhar sob a luz natural, em um local sem barulho algum, sem gente por perto, enfim, num certo isolamento.
Tem algum projeto em execução? Tem alguma ideia em planejamento?
EMIR RIBEIRO: Continuo produzindo a série de Velta, que continua vendendo bem, fazendo ao menos uma edição por ano. Estou aprontando material comemorativo para os 45 anos de atividade, em 2018. Escrevi um livro contanto alguns detalhes do meu passado como quadrinhista e republicando algumas antigas HQs, e espero poder publicá-lo em 2018. Também em 2018, deverá sair um especial escrito pelo mestre R. F. Lucchett e desenhado por mim, numa homenagem à “Naiara, filha do Drácula”, tendo a Velta como protagonista.
Depois disso, estive pensando em fazer uma edição de terror. Mas, ainda é só uma ideia.
O que você gosta de ler, tanto em literatura quanto em quadrinhos?
EMIR RIBEIRO: Nos últimos anos, estive tão ocupado que quase não leio coisa alguma. Às vezes começo a ler, mas não dá para concluir. Espero poder ter mais tempo para a literatura, nos próximos anos.

Onde podemos encontrar trabalhos seus publicados?
EMIR RIBEIRO: Infelizmente, em livraria, gibiterias e bancas é bem difícil. Distribuo meu material em algumas bancas do estado de São Paulo e na Comix, porque são as que não me causam problemas quanto a pagamento das vendas. No mais, vendo diretamente aos leitores de qualquer estado, naquele velho sistema de depositar antecipadamente o valor na minha conta bancária, e a remessa das edições ser efetuada pelos correios.
Qual o maior problema, na sua opinião, do mercado de quadrinhos nacionais?
EMIR RIBEIRO: Há muitos problemas, mas o principal é a distribuição, visto que o setor é subalterno das grandes corporações dos “comics” e fazem o que estes mandam, não dando espaço para o material local. E quando dão, na base do fingimento, usam de subterfúgios para impedir a visibilidade e a venda de quadrinhos brasileiros.

O que acha da quadrinhização de obras literárias nacionais? Fez alguma?
EMIR RIBEIRO: Gostava de ler, quando saiam pela extinta EBAL, e tenho algumas delas aguardadas até hoje. São importantes na divulgação e popularização de escritores nacionais, também esquecidos pela mídia. Lamentavelmente, nunca tive oportunidade de fazer nenhuma, mas se um dia a chance aparecer, estarei disponível.

Quem é o seu maior incentivo a continuar produzindo?
EMIR RIBEIRO: Meu público, que sempre está à espera de que eu produza material novo (e sou cobrado, quando demoro a publicar). Por isso, enquanto existir esse público, estarei criando algo...
Quem é o Emir Ribeiro? Quais seus sonhos?
EMIR RIBEIRO: Uma pessoa simples, que ainda acredita na ética, na honestidade, no respeito e no bom senso – apesar de serem ingredientes raros nos dias de hoje. Parei de sonhar há anos, visto que a situação do país e do mundo piora, quando as pessoas inverteram os valores morais e éticos, e cada dia que passa surge uma péssima surpresa. Parei de sonhar e me concentro a viver e trabalhar diante da situação que se apresenta. Meu modo de ser prefere não viver em “mundinhos de fantasia” e manter os olhos abertos à realidade e agindo conforme a mesma, mas sem esquecer dos valores nos quais fui criado.
Hoje em dia vemos um público de quadrinhos muito ausente, pouco participativo em comentários e em participação nos fóruns. Na sua opinião, a que se deve isso?
EMIR RIBEIRO: Diante da situação do mundo, as pessoas se fecham em torno de si próprias. O isolamento acaba sendo forçado, mas necessário, visto que comentários, sugestões ou opiniões não parecem mudar o atual estado de coisas. É difícil se conversar com qualquer assunto sem que apareçam pessoas partindo para ofensas e deboche. Não sei quanto aos outros, mas, pessoalmente, não gosto de participar de troca de farpas e nem briguinhas. Não faz bem a ninguém.
Lembro que há uns tempos, quando me perguntaram se havia gostado de determinada série de quadrinhos, opinei contrário à maioria e fui hostilizado e desrespeitado. Por isso, depois dessa, prefiro ficar de boca fechada e não participar de debate algum. No dia que as pessoas aprenderem a ser mais educadas e aceitarem a opinião alheia divergente, talvez eu volte a participar. Por enquanto, estou fora. Deve ser o mesmo que sente boa parte dos que leem quadrinhos: preferem o silêncio à briguinha sem sentido.
O que acha da participação feminina nos quadrinhos?
EMIR RIBEIRO: Mesmo com o correr do tempo, continua pequena. A verdade é que o quadrinho sempre foi uma forma de arte cujo público é eminentemente masculino, e continua sendo. Tomara que isso mude, no futuro.

Considera uma melhora na qualidade das HQs nacionais? A que se deve isso?
EMIR RIBEIRO: A internet deu mais visibilidade ao material nacional, mas – à vista do meu tempo curto – nem estou acompanhando o que se desenrola atualmente. Conforme comentei anteriormente, há anos não consigo ler as novidades, por absoluta falta de tempo disponível.

Se a Velta pudesse fazer uma pergunta ao Emir Ribeiro, o que ela perguntaria?
EMIR RIBEIRO: “Vai me manter viva até quando? ” Rs.

Breve currículo.
EMIR RIBEIRO: No livro que escrevi e pretendo publicar em 2018, tem esse currículo, não tão breve, mas bem sintético. Vamos esperar um pouco para ver?

Alguma mensagem para os fãs da Velta? Algo a dizer aos leitores que acompanham seu trabalho? E aos artistas iniciantes, que conselho poderia deixar?
EMIR RIBEIRO: Virão algumas surpresas nas próximas histórias dela, as quais – boa parte - se baseiam em antigas histórias. Os saudosistas vão gostar. E quanto aos novos, para conhecer melhor os primeiros tempos da personagem, não percam a coleção virtual ”Velta, a super-detetive” (que está saindo atualmente, na “Social Comics”) e saiu uma parte no blogue “Rock & quadrinhos”.
Para os artistas iniciantes, o conselho é o de sempre: tentem fazer diferente, pois só assim haverá mais chances de se sobressaírem nessa espinhosa profissão (no Brasil claro). A autocrítica é a melhor arma para crescer e evoluir o trabalho.
Um grande abraço e obrigado pelo carinho em atender à entrevista, muitas novidades virão, tenho certeza, e acredito que o seu trabalho é de suma importância para o desenvolvimento do nosso quadrinho nacional.

André Carim