sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Depoimento de Julio Shimamoto

DEPOIMENTO DE JULIO SHIMAMOTO AO JORNALISTA BRUNO MOLINERO

Como surgiu o convite para participar da Folhinha? Estava relacionado com você ter integrado a Associação dos Desenhistas de São Paulo e conhecer o Mauricio de Sousa?

Em 1961, sendo amigo de Waldyr Igayara, Luís Saidenberg, Liryo Aragão Dias e meu, o editor Miguel F. Penteado, ex-sócio da Editora Outubro, costumava frequentar nosso estúdio no 19º andar do velho Edifício Martinelli, na Rua São Bento, em São Paulo. Quando jovem, ele tinha sido líder sindical dos gráficos, e insistia conosco que desenhistas e roteiristas de quadrinhos deveriam se unir para fundarem uma associação em defesa dos interesses da classe. Que só unidos poderíamos impor nossos pleitos perante os editores.
Desagregados e individualistas por natureza, os quadrinistas viviam submetidos à baixa remuneração e os direitos autorais desrespeitados.
Mas havia uma lógica inegável para as editoras não quererem pagar o razoável por uma HQ nacional: comodidade e preço! Cada quadrinho estrangeiro chegava aqui barato porque eram revendidos no mundo inteiro, dezenas, centenas, ou até milhares de vezes pelos distribuidores como APLA e King Features Syndicate dos EUA, para citar alguns exemplos. Mesmo acrescentando o custo de tradução e adaptação para ser impresso em português, o dispêndio ficava muito aquém do mínimo que ofereciam ao criador nacional.
Maurício de Souza, que também trabalhava como repórter policial na Folha de São Paulo, era outro amigo que nos visitava com certa periodicidade e ficou sabendo das ideias coletivistas de Miguel. Não irei entrar em detalhes, mas o fato é que o assunto tomou vulto rapidamente com a adesão de Renato Barbosa, dinâmico jornalista do jornal "O Correio Paulistano". Seu irmão Elí Barbosa também era desenhista, embora fosse do ramo de animação, convidou seus colegas para engrossar nosso movimento. Nosso estúdio virou sede de debates atraindo desenhistas e roteiristas de diversas áreas, e concluímos que a insatisfação não era exclusiva dos profissionais dos quadrinhos. O Maurício conseguiu contato com os desenhistas cariocas, que sob a liderança de José Geraldo Barreto fundaram a ADERJ, inspirados na nossa associação.
Em pouco tempo, as notícias do movimento reivindicatório se espalharam pelos jornais, rádios e tevês do país. Lutávamos não apenas pela ampliação de espaço de trabalho, mas também pregávamos o compromisso da defesa de nossa cultura, gerando material com conteúdos históricos e folclóricos nacionais, restringindo a invasão indiscriminada de alienantes gibis sobre faroeste, detetives "noir", crimes sadomasô, erotismo vulgar e super-heróis. Educadores e professores das redes públicas e das escolas particulares ficaram empolgados com essas propostas depuradoras e tomaram nosso partido, organizando passeatas e protestos, promovendo nas ruas e em praças públicas grandes queimas de revistas em quadrinhos consideradas nocivas, a maioria de origem estrangeira. A repercussão bateu no palácio do governo, em Brasília, sensibilizando o presidente Jânio Quadros, que antes de entrar para a política tinha sido professor em Mato Grosso. Enviou seu assessor de imprensa para o evento marcado em nosso estúdio, onde lhe foi entregue o memorial reivindicatório redigido por pai da "Mônica". Nessa noite elegemos Maurício presidente da ADESP, por aclamação simples.
O projeto chegou e passou no congresso, e foi para o senado apadrinhado por Aarão Steinbruch, mas devido o poderoso lobby das editoras, acabou engavetado pelo presidente do senado, Eloy Dutra. Do Rio de Janeiro, José Geraldo Barreto tentou contornar o revés buscando outra alternativa, recorrendo ao padrasto, general da reserva que tinha ligações com o PTB, e conseguiu se aproximar de Leonel de Moura Brizola, jovem governador do Rio Grande do Sul, que dava muita ênfase à educação, devido sua esposa presidir a Secretaria da pasta. Geraldo conseguiu espaço na Rua dos Andradas e apoio financeiro, em 1962, e fundou a CETPA (Cooperativa Editora de Trabalho de Porto Alegre).
Para a nossa surpresa, minha e de Saidenberg, José Geraldo nos solicitou quadrinizar o álbum " A HISTÓRIA DA LEGALIDADE", contando as resistências de Brizola e do general Machado Lopes, comandante do III Exército, contra a conspiração dos militares denominados "Forças Ocultas" liderados por Gal. Orlando Geisel, irmão do Gal. Ernesto. Tentativa de impedir a qualquer custo que Jango assumisse a presidência abandonada por Jânio, a ponto de o Gal. Orlando ordenar ao Gal. Machado bombardear Piratiní, palácio do governo gaúcho. Brizola era cunhado de Jango. Machado desobedeceu e ainda pôs o III Exército de prontidão em defesa do Governo, sustando o golpe, e Jango acabou empossado em Brasília. O que ocorreria em 1964 foi o amadurecimento da conspiração de 1961, e isso é outra história que não me cabe abordar aqui. Fizemos o álbum em dupla, esboçado por Saiden e finalizado por mim, e enviamos pelo correio. José Geraldo elogiou nosso trabalho, mas Brizola vetou sua publicação, dizendo que o golpe não se consumara devido o apoio maciço dos rio-grandenses, e que a publicação do álbum conotaria demagogia barata. Não fomos pagos pela tarefa, em compensação, Zé Geraldo nos propôs outros álbuns de cunho educativo.
Éramos solteiros, e decidimos mudar de mala e cuia para o Sul. O Luís produziu lá, o álbum A HISTÓRIA DO COOPERATIVISMO, e eu, o álbum A HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL.
Muitos cariocas, como Flávio Colin, Getúlio Delphin, e José Fortunato também desenharam para a CETPA, porém sem deixar Rio de Janeiro, por terem família e estarem empregados.
O Maurício, casado e com três crianças pequenas, decidira não mais se envolver com movimentos coletivos e resolveu tocar seu próprio projeto, inicialmente denominado BIDULÂNDIA( o cãozinho Bidú era o seu personagem pioneiro), mais tarde rebatizou sua firma para "Maurício de Souza Produções", dando início a produção e distribuição de HQs com novos personagens como Piteco (homem pré-histórico), Horácio (filhote de dinossauro), Jotaleão (elefante) e a emblemática Mônica (inspirada em sua filha do meio, que nunca se separava de um grande coelho de pano, arrastando-o pela casa ).

Encerrado o meu compromisso com o álbum para a CETPA, retornei para Sampa seis meses depois, ainda em 1962. Já Saidenberg, após terminar "A História do Cooperativismo", preferiu continuar em Porto Alegre, e através de amigos gaúchos conseguiu contatos na área de publicidade, para viver de freelances.
O dinheiro ganho no Sul com o álbum, eu entreguei para papai dar como entrada na compra da casa onde morávamos de aluguel. O locador tinha pedido as chaves para pô-la a venda. Eu precisava arranjar novo trabalho com urgência e procurei o velho Miguel Penteado, e graças a sua indicação consegui frilas de ilustrações de livros didáticos da Editora do Brasil, onde o seu amigo Manoel era diretor. Com Maurício, também consegui indicação para um novo projeto de HQ semanal sobre curiosidades futebolísticas para Folha da Tarde.
As portas das editoras de gibis para as quais trabalhávamos antes da ADESP continuavam fechadas para nós, em represália. Fomos rotulados de comunas que atentaram contra seus interesses. Em compensação, no ano seguinte (1963), apesar do movimento pela nacionalização parcial dos quadrinhos ter naufragado, alguns jornais continuavam sensibilizados com a nossa proposta e decidiram abrir espaço para o material nacional. Os primeiros foram a Última Hora, de Samuel Weiner, a popular A Hora, e em seguida, em 1963, Folhas abriu licitação para o projeto de um tabloide infantil dominical, composto de quadrinhos nacionais, e Maurício e a Barbosa Lessa Produções Artísticas resolveram concorrer. Colaborei com ambos na formatação da apresentação dos projetos: para Maurício, com a ajuda de Paulo Hamasaki, que depois seria nomeado seu chefe de estúdio, nós três trabalhamos 24 horas direto, em sua casa, em Mogi das Cruzes. Nada cobrei. Para Barbosa Lessa montei a "boneca" do projeto de apresentação em minha própria casa, em Vila Luzita, Santo André, sem interferência de ninguém, e devido a urgência e eu estar distante do centro de São Paulo, o portador veio com todo o aparato (material) para a execução do trabalho. Também precisei varar a noite. Não discutiram o meu preço, e ainda incluí taxa de urgência. Comprei um fogão à querosene para a minha mãe (antes ela usava fogão a carvão e lenha), e ainda sobrou um troco que repassei para o Maurício que esperava pelo pagamento em atraso das Folhas.
Maurício ganhou a concorrência graças a qualidade de suas HQs predominantemente infantis, enquanto Barbosa só dispunha de HQs juvenis.
FOLHAS pediu a inclusão de uma página juvenil do tipo “O Zorro” no tabloide, como isca para atrair público juvenil ou mesmo para reter leitores que estavam em fase de transição da infância para a adolescência. Maurício passou essa tarefa para mim. Pensei em cangaceiro ou gaúcho, e optei pelo último, devido farto material de pesquisa que tinha acumulado em Porto Alegre fazendo o álbum da História do Rio Grande do Sul. E para me familiarizar com o gauchismo( topografia, costumes e linguajar) li vários autores regionalistas: Érico Veríssimo (O Tempo e o Vento, Ana Terra, Um certo capitão Rodrigo, O Ataque!), Barbosa Lessa (Os Guaxos), João Cândido Maia Neto (História do Rio Grande do Sul), Darcy Azambuja (No Galpão), Simões Lopes Netto (Contos Gauchescos, Histórias de Romualdo, Lendas do Sul, Terra Gaúcha), Walter Spalding (Os Farrapos), e também precisei de um livro sobre a língua tupi-guarani (os tapes e guaranis eram nativos da região).

"O Gaúcho" já existia ou foi concebido especialmente para a Folha?
Já respondido anteriormente.

Em entrevista ao "Universo HQ", você contou que o Mauricio tinha pedido um "zorro brasileiro". E que você ficou entre um cangaceiro e um gaúcho, por causa de uma experiência de um trabalho em Porto Alegre. Confere essa história?
Já respondido anteriormente.

A Tia Lenita tinha alguma interferência na parte dos quadrinhos? Ou isso ficava a cargo do Mauricio?
A professora Lenita nunca palpitou sobre a HQ de O Gaúcho, nem tampouco Maurício. Este até me elogiava em alguns casos, como quando me atrevi a desenhar uma página inteira de um duelo com adagas entre Fidêncio e um desafeto, sem mostrá-los, apenas exibindo a tensão nos rostos da torcida que os rodeavam, mostrando caretas, açulos e deboches!

Como era sua rotina de trabalho em relação à Folhinha? Visitava a Redação com frequência? Como fazia para entregar a página do Gaúcho?
Em 1963, eu comparecia na redação das Folhas uma vez por semana para entregar o original, que era letreirado por Pereira, auxiliar de estúdio de Maurício. O texto eu deixava escrito a lápis nos baluns do próprio original, para ser apagado depois de sobrescrito com tinta nanquim. Senti grande estímulo em fazer O Gaúcho, pois costumava receber avaliações positivas dos redatores que tinham o hábito de acompanhar a série.

Quais materiais costumava usar para fazer as ilustrações? Em qual tipo de papel?
Usava papel canson no formato A3, e esboçava com lápis HB da Johan Faber. Para out-line e hachuras variava as penas, de preferência a francesa Gillot, e o sombreado com o nanquim alemão da Pelikan, que tinha o preto denso, aplicados com pincéis Wikinson nº 2 (inglês) ou Tigre nº 3 (nacional). Nos retoques preferia guaches brancos da nacional Deco (embora provocasse coceira ou bolhas nos dedos por excessos de chumbo e óxido de zinco) ou a alemã Malibu.

Você vivia de quadrinhos naquela época? Além de desenhar para a Folhinha, o que mais fazia?
1963 foi um ano complicado para todo mundo, com a política agitada e instável do governo de João Goulart (sucessor de Jânio, que renunciara logo depois de condecorar Chê Guevara com a "Ordem Cruzeiro do Sul"). Além da página semanal de O Gaúcho, eu fazia ilustrações esporádicas para livros didáticos. Quando nos inícios de 1964 surgiu uma tentadora oportunidade de emprego na MacCan Erikson, multinacional de publicidade, pouco antes da implantação da Ditadura dos generais. A indicação para a vaga veio dos amigos ex-sócios de estúdio Luís Saidenberg e Liryo Aragão Dias, que já estavam trabalhando no departamento de rádio, televisão e cinema da agência, desenhando storyboards e cartelas de chamadas de programas. Ah, esqueci-me de mencionar que, nessa altura, Saidenberg também tinha retornado de Porto Alegre. Topei o emprego, mas mantive O Gaúcho, que durou até maio de 1965.
Desenhava em casa à noite, depois de retornar do trabalho, e era um bocado cansativo, mas servia de garantia de alguma remuneração, caso o novo emprego não desse certo. Na véspera do fechamento do expediente da Folhinha, Maurício enviava o próprio letreirador da minha página, Benedito Pereira, vir para a minha agência apanhar a arte de O Gaúcho.
Permaneci cerca de vinte anos como publicitário, mudando de agência com frequência em busca de aprimoramento e melhoria salarial. Cheguei a ganhar prêmios. Mas nem tudo foi um mar de rosas.
Em 1970, em plena ditadura do Gal. Médici, participei de um grupo de publicitários que decidira ajudar o colega Carlos H. Knap, exilado na França, que passava por dificuldades financeiras. Por um fato inexplicável, ou por descuido de alguém, a lista com os nomes dos contribuintes foi parar nas mãos dos agentes da repressão política e social e terminamos todos presos. Por algum tempo ficamos detidos no quartel da temida OBAN, que estava sob direção do sanguinário torturador Cel. Brilhante Ustra, lá na Rua Tutóia, e depois fomos transferidos para os sombrios porões do DEOPS, próximo da Estação Sorocabana e da Luz. Na OBAN, a experiência foi mais que assustadora, o pior dos pesadelos! Deitávamos no chão frio de cimento das celas sujas, infestadas de baratas e pulgas, e dispúnhamos apenas de finas folhas de jornal como lençol de baixo, sem nada para nos cobrir. Pia com a torneira amassada que deixava escorrer fiozinho de água enferrujada, o banheiro sem porta, sem chuveiro e sem vaso, apenas um buraco nojento para as necessidades fisiológicas. As grades inteiriças de parede-a-parede, sem portas, deixavam passar o vento úmido da madrugada. Ninguém conseguia pregar olho, pelas picadas e coceira e os gritos lancinantes de presos sendo torturados que não cessavam de ferir nossos tímpanos e revolver nossas entranhas. Durava até pouco antes do amanhecer. Eram reais ou gravações ampliadas por alto-falantes? Como saber? Os interrogatórios dos capitães com perguntas repetitivas que se estendiam por horas, com revezamento entre eles, deixavam a gente atordoado. Pelo cansaço e sob pressão incessante, involuntariamente caíamos em contradição, a ponto de errarmos o nome de nossos parentes mais próximos, da mãe, do pai, ou do irmão. Um jovem magro, engenheiro da Brown Bovery, vivia soluçando baixinho, dia e noite, com olhos fixos no chão. Este, quando foi libertado por falta de provas, deixou seu pulôver comigo, pois eu estava apenas com a camisa do corpo. Guardei esse agasalho durante muitos anos sem coragem de devolvê-lo lá na fábrica suíça, em Cotia, onde dissera trabalhar. Tinha receio de complicá-lo, por sentir-me constantemente vigiado.
Outro colega, Marcius, consagrado redator, que o chamavam de pão-duro por nunca ter contribuído para aquelas listinhas para aquisição de torta e refrigerantes para algum colega aniversariante, disse-nos que se arrependera até a medula por ter aberto exceção pela primeira vez, o que acabou provocando sua desgraça. O dono do Hotel Paissandu também estava detido com o seu filho universitário, acusados de acolherem jovens estudantes caçados pela Gestapo brasileira. A comida com cheiro e sabor de rejeitos de lixo, e gosto repugnante de salitre, eram trazidas em grande bandeja encardida e disforme de alumínio. A cor escura do feijão mal disfarçava que estava toda bichada, ao ser servida em pratos e talheres de plástico mal lavados. Tudo parecia planejado para quebrar o nosso ânimo, e esmagar nossa dignidade. Certa tarde, entregaram uma cesta de frutas na cela vizinha, e soube que fora enviado para seus subordinados por Neil (Ferreira) Haddad, famoso diretor de criação da agência Norton de Publicidade. Seu gesto solidário e corajoso calou fundo em nós, ele que também carregava a fama de não pagar nem cafezinho de boteco.
Depois da libertação, eu tinha adquirido a síndrome da perseguição, com constante e a incômoda sensação de estar sendo seguido e vigiado onde andasse e estivesse, nas ruas, dentro de restaurantes ou lojas.
Esse foi o motivo de minha mudança para o Rio de Janeiro. Aqui, casei e tive meus filhos, empregos, e melhor, pude retornar ao que mais gostava de fazer: aos quadrinhos e ilustrações.

O site "Guia dos Quadrinhos" diz que "O Gaúcho", já na época da Folhinha, tinha copyright da Mauricio de Sousa Produções. Isso é verdade? Qual tipo de contrato que existia entre você, a Folha e o Mauricio?
Sim, é verdade. Eu nunca soube do teor do contrato, nem do valor acertado entre Maurício e As Folhas. No nosso caso não passou de compromisso verbal, nada de documento. Bastava que eu criasse e arte-finalizasse O Gaúcho mediante remuneração estipulada por Maurício. Do pagamento era deduzido de 20 ou 25% como taxa administrativa e despesa pelo letreiramento. Houve informações de funcionários do estúdio de Maurício de que O Gaúcho estava sendo distribuído no formato de tiras diárias, também para alguns jornais do interior e em outros estados. Os clichês ou estéreos eram enviados por correio. Se isso realmente acontecia, nunca fui informado oficialmente. Por que não fui verificar com o próprio Maurício? Não quis expor os meus amigos que teriam de testemunhar, e que correriam o risco de demissão por justa causa.

O que "O Gaúcho" representou para a sua carreira de quadrinista e ilustrador?
Foi uma fase muito importante profissionalmente, e que me deu status por ser publicado num jornal de grande prestigio. É inegável que esse fato me facilitou o ingresso no mercado publicitário, iniciando pelo porte de uma MacCann Erikson, maior ou uma das maiores agências do mundo, naquele período.

Houve uma negociação para transformar a história em uma série da TV Tupi? Por que não deu certo?
Em fins de 1964, Lenita Miranda Figueiredo (Tia Lenita), diretora do suplemento Folhinha de São Paulo, chamou-me à sua sala e perguntou-me se eu era autor exclusivo e titular dos direitos de O Gaúcho. No que confirmei, ela disse que um amigo da TV Tupi, do setor de produção, estava interessado em adaptar o meu personagem num seriado para a tevê. Respondi que achava interessante, mas que deveria consultar Maurício por ele ser meu representante. Ela ficou um pouco pensativa, e respondeu que estava bem, que falaria com ele.
Em seguida, comentei com Maurício sobre a proposta da Tia Lenita, e seu comentário foi de acentuada contrariedade: "- Cuidado com ela, é falsa! Não é confiável!"
Deduzi que a relação entre eles, nesse período, andava muito conflituosa. Assim fiquei sem saber realmente como morrera o projeto de O Gaúcho para a TV Tupi.

Na sua opinião, qual o papel que a Folhinha representava entre as crianças da época? Pelo que pude pesquisar, era um projeto muito respeitado entre os pais e a escola, não?
É certeza de que Folhinha ocupou um papel muito importante para os leitores infantis, devido seu conteúdo educativo e recreativo, e pela aceitação irrestrita dos pais e dos professores, sem esquecer a dedicada direção da Professora Lenita Miranda e da genial criatividade de Maurício de Souza e sua equipe. Nenhum outro jornal rivalizava com a Folha de São Paulo e seu suplemento infantil, e sua qualidade era referendada pela excelente tiragem aos domingos.
Para encerrar, quero registrar que O Gaúcho foi republicado em capítulos nos meados dos anos 70 pela Ed. Noblet, na revista “CARABINA SLIM” e, em maio de 2007 a setembro de 2008, dividida em quatro edições, pela SM Editora de Jaú (SP), por José Salles, talentoso roteirista e incansável combatente pelos quadrinhos nacionais.

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